Religião Sunismo

A religião islâmica está no centro de inúmeras discussões pertinentes atualmente haja vista as ações extremistas de grupos terroristas como Al-Qaeda, Boko Haram e Estado Islâmico que usam as crenças religiosas como ‘explicações’ para seus atos. Porém, há que se admitir que no Ocidente não temos um conhecimento profundo a respeito do Islã e nem de suas vertentes. Podemos destacar como as principais vertentes a xiita e a sunita embora possa ser citada também a carijita.

Existe uma ideia generalizada de que os xiitas têm posições mais extremistas em relação aos sunitas. Observe que algumas pessoas quando desejam se referir a alguém que tem o pensamento fechado chamam essa pessoa de ‘xiita’.  Porém, para os estudiosos pensar dessa forma é fazer uma simplificação pobre a respeito de um tema bastante espinhoso. A seguir vamos esmiuçar um pouco mais o que é o sunismo, explicar um pouco sobre as outras duas divisões do Islã e apresentar um panorama histórico de como ocorreu a divisão entre xiitas e sunitas.

O Nome

Para grande parte dos praticantes do Sunismo seu nome deriva da palavra Suna (que pode ser grafada como Sunna) que são os ensinamentos que foram passados por Maomé e os quatro califas ortodoxos que tiveram o seu estabelecimento no século VIII. Porém, para outros o termo Sunismo se refere à ideia de caminho moderado, isto é, seria a vertente do Islã que assume posições mais flexíveis.

Contudo, como já citamos essa é uma simplificação que empobrece o entendimento de uma questão complexa. Para que fique mais claro é necessário citar que o grupo extremista Estado Islâmico é considerado sunita. Isso se deve ao fato de que grande parte dos costumes dos extremistas desse grupo é sunita e que eles consideram que o primeiro califa foi Abu Bakr. O Sunismo é a corrente majoritária em termos de adeptos no mundo entre os muçulmanos, representa 84% dos muçulmanos.

Qual a Principal Diferença entre Sunitas e Xiitas?

A grande diferença entre os dois grupos está na forma de entender o Corão. Para os sunitas o livro sagrado é a palavra eterna de Alá existindo desde sempre e sendo válido da mesma forma em qualquer tempo e lugar. Já os xiitas acreditam que o Corão foi criado durante o passar do tempo e dessa forma Alá precisa sempre guiar os fiéis a fazer a interpretação de suas palavras. Os seguidores do sunismo são entendidos como sendo mais doutrinários.

A Religião Sunita

Os muçulmanos que seguem a doutrina sunita tem como base para a sua religiosidade o Corão (livro sagrado do Islã em que está contida a palavra literal e direta de Deus) e na Suna de acordo com a forma como está registrada na hadith ou hádice (um conjunto de leis, histórias e lendas que cercam a vida de Maomé). Os livros mais importantes dos chamados “Seis Livros” (Kutubi-Sittah) do hadith são: Sahih Bukhari e Sahih Muslim.

A Religião Xiita

O segundo maior grupo dentre os muçulmanos ficando com 16% do total. A grande diferença entre sunismo e xiismo está no fato de que para os últimos Ali (que era genro e primo de Maomé) era quem deveria ser o seu sucessor pelo direito de sangue e não Abu Bakr (considerado o primeiro califa pelos sunitas). Para a vertente xiita os três califas sunitas que assumiram o posto depois de Maomé são ilegítimos. Dentro do grupo xiita existe ainda uma subdivisão em outros três grupos que são:

  • Xiitas dos Doze Imanes – Grupo que crê na existência de doze imanes ou imãs que são líderes religiosos que sucederam Maomé.
  • Ismaelitas – Reconhecem somente os sete primeiros imãs que sucederam Maomé.
  • Zaidistas – É um grupo dissidente dentro da vertente xiita.

A Religião Carijita

Atualmente, é o menor grupo dentro da religião muçulmana, porém, foi o primeiro grupo a se formar após o cisma ocorrido em 665-661 em que houve divergência entre quem deveria ser o sucessor de Maomé. No início o grupo Carijita apoiava Ali, como os xiitas fizeram, mas depois passaram a rejeitá-lo. No mundo atual existe apenas um subgrupo de Carijitas chamado de Ibaditas.

Sunitas X Xiitas – Como a Divisão Aconteceu

Os conflitos e atos extremistas entre sunitas e xiitas estão nos noticiários quase todos os dias. Ataques a mesquitas e até mesmo emboscadas a membros do grupo rival são bastante comuns e é natural que algumas pessoas que não conhecem a fundo a história da cisma do islamismo não consigam entender as motivações. A verdade é que um dos principais conflitos que ameaça a paz do mundo teve início num desacordo político.

Atualmente, os dois grupos tem diferenças teológicas e já se enfrentaram numa série de conflitos que apenas aumentaram os ressentimentos. Mas, nem sempre isso foi assim, pois antes da cisma os muçulmanos formavam apenas um grupo. A origem dessa situação complicada da geopolítica atual remonta ao século VII.

A Origem do Islamismo

Precisamos conhecer a origem do Islã para compreender o motivo da cisma, foi no século XVII que Maomé fundou a religião. Antes do islamismo as pessoas que habitavam essa região praticavam a idolatria como religião. A partir dos ensinamentos de Maomé passou-se a seguir Alá, um Deus único. Durante sua vida Maomé foi perseguido especialmente na sua cidade natal de Meca tendo então que se mudar pra Medina.

Foi em Medina que ele fundou a primeira comunidade islâmica que recebeu o nome de umma e o consagrou como um grande líder religioso, político e também militar. O Corão foi escrito a partir das revelações que foram feitas a Maomé. Com tudo isso podemos perceber que a figura de Maomé era central e essencial para manter a unidade dos muçulmanos, contudo, ele faleceu em 632 sem ter dito quem deveria ser o seu sucessor.

A Escolha do Sucessor de Maomé

Os muçulmanos não tinham ideia de como escolher o sucessor do profeta e nem mesmo quais seriam as funções desse novo líder e quanto tempo ele deveria permanecer no poder. Aos poucos se pode perceber uma divisão em dois grupos sendo que o primeiro deles acreditava que essa era uma honra que deveria ser reservada a linhagem de sangue de Maomé. Esse grupo que era a minoria tinha como seu candidato Ali ibn Abi Talib que além de ser casado com a filha do profeta também era seu primo.

O nome dado a esse primeiro grupo foi “Shiat Ali” ou então Partido de Ali e também ficaram conhecidos pelo nome de xiitas. O segundo grupo que representava a maioria acreditava que qualquer pessoa que acreditasse e seguisse os preceitos do Corão poderia se candidatar ao papel de líder. Esse grupo passou a ser chamado de Sunita em referência a expressão Ahl al Sunna que significa Povo da Tradição.

O grupo que estava em maioria escolheu para suceder Maomé um dos seus mais fiéis companheiros, Abu Bakr que recebeu o título de califa (palavra que vem de Khalifa que significa algo como alguém que representa ou um sucessor). Obviamente o grupo xiita não gostou nada dessa escolha, pois ainda insistia que o escolhido deveria ser Ali.

Os Sucessores de Maomé

Prevendo que poderia ocorrer um novo conflito antes de falecer Abu Bakr escolheu o seu sucessor e o eleito foi Umar ibn Al-Khatab que promoveu a expansão do islã pela península arábica. Quando se encontrava em seu leito de morte Umar escolheu um conselho que tinha como função determinar quem seria o terceiro a assumir o posto de califa.

O eleito pelo conselho foi Uthman ibn Affan que entre outras coisas aumentou ainda mais o domínio do califado bem como derrotou a Pérsia. Porém, a divergência que existia entre os próprios muçulmanos estava tornando difícil o governo do terceiro califa. O fato de Uthman ser um aristocrata com certos privilégios não ajudou muito já que Maomé combatia exatamente a existência de tais privilégios.

Os conflitos internos desencadearam numa guerra civil em que Uthman acabou sendo assassinado em 656 finalmente abrindo o caminho para que Ali, o escolhido dos xiitas, pudesse se tornar califa. O grande problema é que as diferenças entre os grupos já estavam tão enraizadas que nem mesmo Ali pode superá-las e se impor como a figura no comando. Apenas 5 anos após ter assumido como califa Ali também foi assassinado.

Religião Sunismo

Religião Sunismo
C: Corbis/Stock Photos

Dinastia de Califas – Os 4 Califas da Discórdia

Com o assassinato de seu líder os xiitas apoiaram que o filho de Ali, Hassan, se tornasse o novo califa. O problema é que Hassan era muito jovem e não aguentou a pressão feita por Muawiya ibn Abu Sufyan que era o então governador da Síria. Ao desbancar o jovem filho de Ali, Muawiya, fundou a primeira dinastia de califas que recebeu o nome de Dinastia dos Omíadas.

Os sunitas deram seu aval ao reinado dos 4 primeiros califas dessa dinastia enquanto para os xiitas somente o reinado de Ali foi legítimo. O passar do tempo apenas foi aumentando a distância entre sunitas e xiitas. Novos motivos de desacordos foram surgindo como diferenças teológicas. As coisas pioraram de vez quando em 680 um dos netos de Maomé e filho de Ali, Hussein, comandou uma rebelião contra califa omíada Yazid que iria assumir o reinado.

Hussein acabou sendo degolado e seus companheiros de rebelião e também xiitas foram mortos. Esse tratamento extremo a um descendente direto de Maomé causou grande comoção entre os xiitas e o dia do assassinato passou a ser celebrado no décimo dia do mês de Muharran.

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