Conhecido pela alcunha de Benedito, o Mouro, São Benedito foi o primeiro negro a ser canonizado pela Igreja Católica tendo a sua santidade reconhecida. Há controvérsias a respeito de sua origem, uma das versões mais aceitas como verdadeira é a de que ele nasceu em Sicília, na Itália, no ano de 1524 fazendo parte de uma família pobre que descendia de escravos africanos etíopes.
Em outra versão consta que São Benedito teria sido um escravo capturado no norte do continente africano, algo que era particularmente comum no sul da Itália. Se esta última versão for a verdadeira ele seria de origem moura e não etíope como consta. Acredita-se que o apelido ‘mouro’ lhe foi atribuído pelo tom pardo de pele. Conheça mais sobre a história e sobre as doutrinas de São Benedito.
A História de São Benedito
Os pais de São Benedito eram escravos, seu pai ao que tudo indica era etíope e foi vendido para um fazendeiro muito rico da Sicília, na Itália. Era costume nessa época que os escravos adotassem o sobrenome de seus senhores de maneira que o pai do futuro santo se chamava Cristóvão Manasseri. A mãe de São Benedito se chamava Diana Larcan e conservou o nome do senhor mesmo depois de ter sido liberta.
O casal se conheceu em solo italiano de acordo com a história mais aceita sobre a vida de São Benedito. Logo se casaram e constituíram uma família sendo que Benedito foi seu primeiro filho. O maior presente que a criança recebeu foi a carta de alforria concedida pelo senhor Manasseri. Benedito teve três irmãos: Marcos, Baldassa e Fradella. A família era muito humilde, mas ainda assim tinha grande crença em Deus, Dona Diana fazia questão de cria-los como católicos.
O Chamado da Vida Religiosa
As crianças, em especial Benedito, sofriam com o preconceito e as zombarias das outras crianças. Num dia de trabalho pesado ele suportava o escarnecimento das outras crianças quando ouviu a voz de frei Jerônimo Lanza, o Eremita, fazer a seguinte profecia: “Hoje vocês zombam de um pobre menino negro, mas saibam que a sua fama irá correr o mundo.”.
Benedito sentiu o chamado de sua vocação, quando chegou em casa implorou para os pais que permitissem que ele deixasse a vida de arado para se juntar ao eremitério dos Franciscanos. Os frades tinham certeza todos os dias que estavam diante de um irmão especial, ele sempre alegrava a vida dos demais. Passados cinco anos de sua chegada ele fez seus votos de castidade, pobreza, obediência e vida de penitência contínua. Benedito andava descalço dormindo no chão sem cobertas.
A vida no eremitério era bastante simples, os frades se alimentavam de pão velho que lhes era dado em caridade e das verduras que cultivavam. Porém, mesmo nessas condições Benedito tinha um largo sorriso e excelentes conselhos para dar a aqueles que o procuravam. Não demorou até que começassem a ser formadas filas diante do mosteiro em busca de auxílio daquele que era um frade especial.
Os Milagres de São Benedito na Cozinha
Quando frei Jerônimo faleceu os eremitas tiveram que procurar outros conventos franciscanos para se abrigar. O destino de São Benedito foi o convento de Santa Maria de Jesus, na Sicília, local em que ele viveu até o final da sua vida. A primeira função a ser desempenhada por ele no convento foi a de cozinheiro, como era um convento muito pobre dificilmente tinha a despensa abastecida. Para lutar contra isso o frei transformou a cozinha num santuário de oração.
Surpreendentemente ele conseguia servir seus irmãos com pratos maravilhosos com peixes frescos que simplesmente apareciam, pães eram multiplicados, o vinho parecia nunca acabar e até mesmo a lenha para o fogo se mantinha por um longo período. Os outros irmãos não cansavam de gritar “Milagre, milagre!” diante dos feitos de São Benedito.
Uma das passagens mais bonitas da história de São Benedito é a da visita do Bispo para o almoço de natal. Nesse dia o frei se ajoelhou na capela e se perdeu no tempo contemplando a cena do nascimento do menino Jesus. Perto do horário do almoço foi despertado pelos outros freis que se desesperaram em não ter uma refeição para oferecer ao Bispo. Benedito mais do que depressa se fechou na cozinha e os outros irmãos viram pelas janelas dois seres de luz o ajudarem no preparo. O almoço ficou fabuloso.
Superior da Província
Sendo muito querido por todos, São Benedito, foi escolhido por unanimidade para assumir o posto de Superior da Província, porém, inicialmente declarou que achava que não poderia aceitar haja vista que era analfabeto. Com a insistência dos irmãos e o seu voto de obediência ele acabou aceitando. Nessa nova função o frei teve a oportunidade de agir como um pai para os demais frades assim como para os fiéis.
Mais Milagres de São Benedito
Novos milagres passaram a constar na história de São Benedito, um dia uma senhora com um bebê nos braços foi lançada de sua charrete em frente ao convento de onde saía. A criança que caiu no chão acabou falecendo, desesperada a mãe começou a gritar chamando atenção de São Benedito que saiu imediatamente e pegou o pequeno sem vida em seus braços. Após uma oração o bebê voltou a vida para a surpresa de todos e especialmente da mãe que ficou extremamente grata.
Certa vez um jovem com diversos tumores no pescoço foi levado a presença de São Benedito pedindo que ele lhe curasse. O frei respondeu que ele não podia curar ninguém, mas que o jovem e ele poderiam rezar aos pés de Jesus Sacramentado e da Virgem Maria que verdadeiramente podiam curar. Não demorou para que o jovem estivesse curado dos tumores. Diversas outras histórias dessa natureza compõem a trajetória de São Benedito.
A Despedida de Frei Benedito
Em 1589, com 63 anos de idade, o frei percebeu que havia chegado seu momento de se despedir da vida. Pedindo perdão aos demais confrades por sua partida ele apenas olhou para o alto e partiu. O povo da cidade somente tomou conhecimento desse triste acontecimento dias depois quando o sepultamento já havia sido feito, pois estavam em festejos de uma cidade vizinha.
Assim que a notícia se espalhou milhares de pessoas foram rezar diante do túmulo do frei. São Benedito era aclamado como santo, mas sua beatificação só viria a acontecer oficialmente em 1763 e sua canonização no ano de 1807. A devoção a esse santo somente teve início no Brasil no ano de 1686 iniciando-se na Bahia através da Irmandade dos Homens Pretos.