Baependi é uma cidade pequena de Minas Gerais, com cerca de dezoito mil habitantes. A cidade, que esteve no Ciclo do Ouro de Minas Gerais, se desenvolveu ao longo da estrada real. Tendo primeiramente sua economia movimentada pela mineração, e nos dias atuais movida pela agricultura, comércio de artesãos, e pelo turismo, por ser uma cidade histórica muito bonita.
A religiosidade na cidade sempre foi muito forte, e esta enrustida nos costumes do seu povo desde a fundação dela, a cerimônia de semana santa ocorre a cerca de duzentos anos, e atrai fiéis de várias outras regiões do país por sua tradição, e a dedicação do povo para realizar uma bela cerimônia, tendo diversos eventos como procissões diárias, a encenação da crucificação de Jesus Cristo, dentre outras tradições. Entre as igrejas mais visitadas da cidade estão a igreja Matriz de Nossa Senhora de Montserrat, fundada em mil setecentos e cinquenta e quatro, a de Nossa senhora da Boa Morte fundada em mil oitocentos e quinze, a de Nossa Senhora do Rosário fundada em mil oitocentos e vinte, e a principal e mais visitada, O santuário de Nossa Senhora da Conceição, que é mais conhecido como Igreja de Nhá Chica, que será o foco desse artigo. Essas igrejas foram tombadas como patrimônio histórico e tem uma grande importância para os moradores da cidade e também fiéis de todo o Brasil.
História de Nhá Chica
Francisca de Paula de Jesus nasceu no ano de mil oitocentos e dez, no povoado de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, que é atualmente um distrito do município de São João del Rei. Ali ela também foi batizada, era filha e neta de escravos, sendo de origem muito humilde. A família se mudou para Baependi, mas com apenas dez anos Francisca se viu órfão dos pais, tendo somente em sua companhia seu irmão dois anos mais velho. A menina já era devota de Nossa Senhora da Conceição pois havia aprendido com a mãe, mas após a morte da mesma, passou a deixar a Nossa Senhora guiar toda sua vida. Nhá Chica tinha um “apelido” para Nossa Senhora, a chamando de “Minha Sinhá”, e sempre pedindo sua benção e seguindo o que ela acreditava que seria aprovado pela santa em sua vida.
Antes de morrer, a mãe de Nhá Chica pediu a ela que vivesse para ajudar os outros, em caridade. Ela não tinha estudos, mas passou a se dedicar a ajudar os outros, conquistando assim uma fama na cidade. Dava conselhos aos mais pobres, aos mais necessitados e também para os ricos. As pessoas iam lhe pedir orações, conselhos, ajuda, contavam coisas a ela e esperavam para saber a sua opinião sobre, e só depois realizavam ou não dependendo da sua resposta. Ela começou a ficar conhecida como “mãe dos pobres” e muitos a chamavam de santa, mas para eles ela somente dizia que rezava com muita fé. Nhá Chica também rejeitou propostas de casamento, para que dedicasse toda sua vida ao Senhor.
A sua fama santa foi crescendo e começaram a vir pessoas de outras cidades para falar com ela, onde ela atendia a todos, dando os conselhos, conversando e ouvindo. Ela somente resguardava suas sextas, dizia que era o dia de orações e penitências por ser o dia que lembra a Morte e a Paixão de Jesus Cristo. Ela não sabia ler nem escrever, mas não acreditava que precisaria disso, a única coisa que gostaria de ler era as escriturações sagradas, por isso, quando queria ouvir a palavra do senhor, ela pedia para que alguém lesse para ela.
A Igreja
Muitos anos após a morte de Nhá Chica, em mil novecentos e cinquenta e quatro, a igreja foi confiada à uma Congregação, a das Irmãs Franciscanas do Senhor. Passando assim por algumas reformas até chegar ao santuário conhecido hoje, que acolhe peregrinos do Brasil e de outras partes do mundo, há na igreja um “Registro de Graças do Santuário”, onde aqueles que pediram alguma benção, voltam para agradecer e registrar quando ela é alcançada. Esse registro conta com cerca de vinte mil graças registradas que foram alcançadas por intercessão de Nhá Chica. Ao lado da Igreja funciona uma obra de assistência social, mantida por devotos de Nhá Chica. Chamada de Associação Beneficente Nhá Chica, voltada para crianças que passam por necessidades, atende cerca de cento e cinquenta pequeninos.
Fim da Vida e Beatificação
Ainda viva ela já era conhecida como Santa de Baependi. Ela morreu com seus oitenta e sete anos de idade, no ano de mil oitocentos e noventa e cinco, sua sepultação ocorreu somente quatro dias após sua morte, e relatos dos presentes contam que o corpo exalava um misterioso perfume de rosas, mesmo após quatro dias. Esse mesmo perfume voltou a ser sentido pelos pedreiros que exumaram o corpo, e pelas Autoridades Eclesiásticas que foram visitar o corpo pela Causa de Beatificação de Nhá Chica, isso mesmo após cento e três anos de sua morte.
Seus rostos Mortais se encontram no interior do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, igreja por ela fundada, eles são protegidos por uma urna de acrílico e outra de granito, e por ano passam milhares de fiéis para venera-los. O seu processo de beatificação começou em mil novecentos e noventa e três, mesmo que ela já era reconhecida como Serva de Deus desde mil novecentos e noventa e um, dois anos depois foi enviado para Roma, e ficou parado por um tempo, até mil novecentos e noventa e oito. Nesse ano foram analisados seus restos mortais, e também apresentado um possível milagre (pois para se tornar beato é preciso ter um milagre confirmado, pelos membros da igreja assim como especialistas da área que ocorreu o milagre em questão). O primeiro passo da aprovação deste aconteceu em dois mil e um, mas o processo é bem demorado, em dois mil e quatro, os bispos brasileiros se reuniram e coletaram assinaturas de bispos de vinte e quatro estados diferentes, totalizando duzentas e quatro assinaturas, onde pedia-se a beatificação de Nhá Chica.
O milagre em questão atribuído a intercessão de Nhá Chica, aconteceu com Ana Lúcia Meirelles Leite, uma professora da cidade de Caxambu em Minas gerais, e ocorreu no ano de mil novecentos e noventa e cinco, a professora foi curada de um problema considerado muito grave pelos médicos, era um problema congênito no coração, que foi resolvido sem necessidade de cirurgias. Segundo a professora a graça se deu pelas orações em intercessão a Nhá Chica. Essa graça foi aceita pelo Vaticano e passou a ser analisada, a comissão Médica da Congregação para as Causas dos Santos analisou o ocorrido e determinou que a cura não tinha explicação científica. Ela recebeu o título de Venerável em dois mil e onze, e no dia quatro de maio de dois mil e treze, ocorreu sua beatificação. A cerimônia ocorreu em Baependi, e definiu-se a data quatorze de junho como a festa litúrgica de Nhá Chica. Ela é então a primeira leiga e negra brasileira a ser declarada beata pela Igreja Católica.
Oração
Oração a Nhá Chica
“Deus, nosso Pai, vos revelais as riquezas de vosso Reino aos pobres e simples. Assim agraciastes vossa serva Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, com inúmeros dons: fé profunda, amor ao próximo e grande sabedoria. Amou a Igreja e manteve uma terna devoção à Imaculada Conceição. Por sua intercessão, concedei-nos a graça de que precisamos….. E dai-nos a alegria de vê-la elevada à honra dos altares. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”
Novena a Nhá Chica: Essa é uma oração para se obter os favores celestiais através da intercessão da Serva de Deus Nhá Chica, deve ser rezada durante nove dias seguidos ou então intercalados. E após feita deve-se rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e uma Salve Rainha.
“Nhá Chica, recorro a vós como intercessora entre a Bondade Divina e as necessidades humanas. Peço-vos, como favor espiritual, que entregueis nas mãos do Santíssimo o meu pedido urgente (Fazer o pedido). Acolhei, Nhá Chica, no vosso coração bondoso as minhas necessidades e amparai-me nesta oração (Fazer o pedido novamente). Voai para o Trono de Deus Pai agora e voltai mais velozmente ainda com um milagre de Jesus nas vossas mãos caridosas, porque estou aqui nesta ansiedade esperando a vossa solução para o meu problema. Obrigado, Nhá Chica! Amém!”
